15. Não haveria prejuízo para a correção gramatical do texto caso os pronomes “se” (l. 2) e “a” (l. 5) fossem deslocados para imediatamente após as formas verbais “aplicava” (l. 2) e “apanhasse” (l. 5), escrevendo-se que aplicava-se e caso apanhasse-a, respectivamente.
( ) CERTO
( ) ERRADO
Em casa todos dormiam. Todos, menos a irmã.
Era quieta, essa irmã. Não cantava, não ria; mal falava. Trazia água do poço, varria o terreiro, passava a roupa, comia. – pouco, magra que era – e ia para a cama sem dar boa-noite a ninguém. Dormia num puxado, um quartinho só dela; tinha nojo dos irmãos. Se, na cama, suspirava ou revirava os olhos, nunca ninguém viu. O nome dela era Honesta.
(Nome dado pela mãe. O pai queria-a ali, na roça; a mãe, porém, tinha esperança que um dia a filha deixasse o campo e fosse para a cidade se empregar na casa de uma família de bem. E que melhor nome para uma empregada do que Honesta? O pai acreditava no campo; a mãe secretamente ansiava pela cidade – por um cinema! Nunca tinha entrado num cinema! Minha filha fará isto por mim, dizia-se, sem notarque a filha vagueava por paisagens estranhas, distantes do campo, distantes da cidade, distantes de tudo [...])
Moacyr Scliar. Doutor Miragem. Porto Alegre, L&PM, 1998, p. 22-3 (com adaptações).
16. No texto, o pronome “se”, em “dizia-se” (l.14), equivale, em sentido, à expressão a si mesma.
( ) CERTO
( ) ERRADO
Empossado na prefeitura carioca, Negrão de Lima arregalou os olhos quando os técnicos em urbanismo informaram-lhe que havia oito milhões de ratos na cidade. Perguntou: “Como é que vocês contaram?”
A respeito de certos eventos, a mídia também chuta números astronômicos. Agora, na visita do papa, a informação geral foi a de que, na praia de Copacabana, havia três milhões de “peregrinos” em uma das cerimônias. Recebi de um leitor uma carta esclarecedora:
“Praia de Copacabana. Comprimento: 4.000 metros. Largura média: 100 metros. A mídia local contagiou a mídia estrangeira, mantendo, em uníssono, que três milhões de fiéis estavam na praia, todinhos ao mesmo tempo! Sem descontar os obstáculos que diminuem a área total (palco, restaurantes, quiosques etc.), o simples cálculo é que, se a densidade média de cada m2 de área fosse de três pessoas por m2, o total de pessoas poderia chegar a 1,2 milhões.
Segundo o cálculo de um pesquisador consultado, havia, nesse dia, 560.000 pessoas, margem de 30.000 para mais ou para menos.”
Em 1964, quando lancei na Cinelândia um livro com as crônicas que escrevia no Correio da Manhã contra o regime militar, o jornal informou que havia 3.000 pessoas na praça. Os jornais que apoiavam a ditadura garantiram que só havia 18 gatos-pingados.
Carlos Heitor Cony. Folha de São Paulo, 4 ago. 2013 (com adaptações).
17. Uma forma correta de reescrita do trecho iniciado pela conjunção temporal “quando” (l.2) é a seguinte: ao ser informado pelos técnicos em urbanismo que existia oito milhões de ratos na cidade do Rio de Janeiro.
( ) CERTO
( ) ERRADO
Observação!
Mas, CUIDADO! Observem a reescrita: “ao ser informado pelos técnicos em urbanismo que existia oito milhões de ratos na cidade do Rio de Janeiro”. Notem que o verbo “haver” foi substituído por “existir”, que NÃO é impessoal e, por isso, deveria concordar com o sujeito plural “oito milhões de ratos”. A reescrita correta seria, então, “ao ser informado pelos técnicos em urbanismo que existiam oito milhões de ratos na cidade do Rio de Janeiro”.
A dieta básica do brasileiro é caracterizada pelo consumo de café, pão de sal, arroz, feijão e carne bovina e pela presença de sucos, refrescos e refrigerantes e pouca participação de frutas e hortaliças. Embora essa configuração apresente pouca variação, quando se consideram os estratos de sexo e faixa etária, observa-se que os adolescentes são o único grupo etário que deixa de citar qualquer hortaliça e que inclui doces, bebida láctea e biscoitos doces entre os itens de maior prevalência de consumo. Por outro lado, os idosos são os únicos que incluem maior número de hortaliças entre os alimentos mais prevalentes.
Amanda da M; Souza et al. Alimentos mais consumidos no Brasil: Inquérito Nacional de Alimentação 2008-2009. In: Rev. Saúde Pública (online). 2013, vol 47, supl. 1, p. 190s-199a, Internet: <dx.doi.org>. (com adaptações)
18. O termo “que" desempenha a mesma função sintática nas ocorrências da linha 7.
( ) CERTO
( ) ERRADO
A inércia da vida real desaparece magicamente na navegação pelo ciberespaço, desprovida de fricção. No mercado atual, encontramos uma série de produtos privados de suas propriedades malignas: café sem cafeína, creme sem gordura, cerveja sem álcool... ciberespaço. A realização virtual simplesmente generaliza esse procedimento: cria uma realidade privada de substância. Da mesma maneira que o café descafeinado tem cheiro e gosto semelhantes aos do café, sem ser café, minha persona na rede é sempre um “eu” descafeinado. Por outro lado, existe também excesso oposto, e muito mais perturbador: o excedente de minha persona virtual com relação ao meu “eu” real. Nossa identidade social, a pessoa que presumimos ser em nosso intercurso social, já é uma máscara, já envolve a repressão de nossos impulsos inadmissíveis; e é precisamente nessas condições de “só uma brincadeira”, quando as regras que regulam os intercâmbios de nossas vidas reais estão temporariamente suspensas, que podemos nos permitir a exibição dessas atitudes reprimidas.
O fato de que eu perceba minha autoimagem virtual como simples brincadeira me permite, assim, suspender os obstáculos que usualmente impedem que eu realize meu “lado escuro” na vida real – meu “id eletrônico” ganha asas dessa forma. E o mesmo se aplica aos meus parceiros na comunicação via ciberespaço. Não há como ter certeza de quem sejam, de que sejam “realmente” como se descrevem, ou de saber se existe uma pessoa “real” por trás da persona online. A persona online é uma máscara para uma multiplicidade de pessoas? A pessoa “real” com quem converso possui e manipula mais personas no computador, ou estou simplesmente me relacionando com uma entidade digitalizada que não representa pessoa “real” alguma?
Slavo. Zizek. Identidades vazias. Internet: <http://slavo-zizek.blogspot.com.br>. (com adaptações)
19. A locução adverbial “Da mesma maneira que” (l.7) poderia ser substituída, sem prejuízo para as relações de coesão e coerência do texto, por Assim como.
( ) CERTO
( ) ERRADO
Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar0lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía AS Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar em um mar suave, as ondas me levavam e me traziam. No dia seguinte, fui à sua casa, literalmente correndo. Não me mandou entrar. Olhando bem meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para busca-lo. Boquiaberta, sai devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não cai nenhuma vez.
Clarice Lispector. Felicidade clandestina. In: Felicidade clandestina: pontos. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (com adaptações).
20. Na oração “guiava-me a promessa do livro” (l.22), o pronome “me” exerce a função de complemento da forma verbal “guiava”.
( ) CERTO
( ) ERRADO
Se a data da abolição marca no Brasil o fim do predomínio agrário, o quadro político instituído no ano seguinte quer responder à conveniência de uma forma adequada à nova composição social. Existe um elo secreto estabelecido entre esses dois acontecimentos e numerosos outros uma revolução lenta, mas segura e concertada, a única que, rigorosamente, temos experimentado em toda a nossa vida nacional.
Processa-se, é certo, sem o grande alarde de algumas convulsões de superfície, que os histpriadores exageram frequentemente em seu zelo, minucioso e fácil, de compendiar as transformações exteriores da existência dos povos. Perto dessa revolução, a maioria de nossas agitações do período republicano, como as suas similares das nações da América espanhola, parecem simples desvios na trajetória da vida política legal do Estado comparáveis a essas antigas revoluções palacianas, tão familiares aos conhecedores da história europeia.
Houve quem observasse, e talvez com justiça, que tais movimentos, no fundo, têm o mesmo sentido e a mesma utilidade das eleições presidenciais na América do Norte; o abalo por estes produzido não deve ser mais profundo do que o resultante destas.
(...)
A grande revolução brasileira não é um fato que se registrasse em um instante preciso; é antes um processo demorado que vem durando pelo menos há três quartos de século.
21. Sem prejuízo da correção gramatical e do sentido do texto, a expressão “é certo” (l.9) poderia ser substituída por corretamente
( ) CERTO
( ) ERRADO
Balanço divulgado pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF) aponta redução de 39% nos casos de roubo com restrição da liberdade, o famoso sequestro-relâmpago, ocorridos entre 1º de janeiro e 31 de agosto deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado – foram 520 ocorrências em 2012 e 316 em 2013.
Em agosto deste ano, foram registrados 39 casos de sequestro-relãmpago em todo o DF, o que representa redução de 32% do número de ocorrências dessa natureza criminal em relação ao mesmo mês de 2012, período em que 57 casos foram registrados. Entre as 39 vítimas, 11 foram abordadas no Plano Piloto, região que lidera a classificação de casos, seguida pela região administrativa de Taguatinga, com oito ocorrências. Segundo a SSP, o cenário é diferente daquele do mês de julho, em que Ceilândia e Gama tinham o maior número de casos, “38% dos crimes foram cometidos nos fins de semana, no período da noite, e quase 70% das vítimas eram do sexo masculino, o que mostra que a escolha da vítima é baseada no princípio da oportunidade e aleatória, não em função do gênero.”
Ao todo, 82% das vítimas (32 pessoas) estavam sozinhas no momento da abordagem dos bandidos, por isso as forças de segurança recomendam que as pessoas tomem alguns cuidades, entre os quais, não estacionar em locais escuros e distantes, não ficar dentro ds carros estacionados e redobrar a atenção ao sair de residências, centros comerciais e outros locais.
DF registra 316 ocorrências de sequestro-relâmpago nos primeiros oito meses
deste ano. R7, 6/9/2013. Internet: <http://noticias.r7.com> (com adaptações).
22. O trecho “por isso as forças de segurança recomendam que as pessoas tomem alguns cuidados” (l.23-25) expressa uma ideia de conclusão e poderia, mantendo-se a correção gramatical e o sentido do texto, ser iniciado pelo termo porquanto em vez da expressão “por isso”.
( ) CERTO
( ) ERRADO
Embora as conquistas obtidas a partir da Revolução Francesa tenham possibilitado a consolidação da concepção de cidadania, elas não foram suficientes para que essa condição se verificasse na prática. A mera declaração formal das liberdades nos documentos e nas legislações diante da inexorável esclusão econômica da maioria da população. Em vista disso, já no século XIX, buscaram-se os direitos sociais com ações estatais que compensassem tais desigualdades, municiando os desvalidos com direitos impantados e construídos de forma coletiva em prol da saúde, da educação, da moradia, do trabalho, do lazer e da cultura para todos.
No entanto, foi somente depois da Segunda Guerra Mundial que a afirmação da cidadania se completou, haja vista que só então se percebeu a necessidade de se valorizar a vontade da maioria, respeitando-se, sobretudo, as minorias, em suas necessidades e peculiaridades. Em outras palavras, verificou-se claramente que a maioria pode ser opressiva, a ponto de conduzir legitimamente ao poder o nazismo ou o fascismo. Para que fatos como esse não se repetissem, fez-se prometer a criação de salvaguardas em prol de todas as minorias, uma vez que a soma destas empresta legitimidade e autenticidade à vontade da maioria.
Eis ai o fundamento primeiro das políticas em favor de quaisquer minorias. No que toca às pessoas com deficiência, é possível afirmar que o viés assistencialista e caridosamente excludente que orientava as ações governamentais tem sido substituído por programas de efetiva inclusão, que visam formar cidadãos sujeitos do próprio destino, e não mais meros veneficiários de políticas de assistência social. O direito de ir e vir, de trabalhar e de estudar é a mola mestra da inclusão de qualquer cidadão e, para que se concretize em face das pessoas com deficiência, há que se exigir do Estado a construção de uma sociedade livre, justa e solidária (como prevê o artigo 3º da Constituição Federal), por meio da implementação de políticas públicas compensatórias e eficazes.
A obrigação, porém, não se esgota nas ações estatais. Todos nós somos igualmente responsáveis pela efetiva compensação de que se cuida. As empresas, por sua vez, devem primar pelo respeito ao princípio constitucional do valor social do trabalho e da livre iniciativa, para que se implementem a cidadania plena e a dignidade do trabalhador com ou sem deficiência (previstas nos artigos 1º e 170 da Constituição Federal). Nesse diapasão, a contratação de pessoas com deficiência deve ser vista como qualquer outra. Desses trabalhadores, espera-se profissionalismo, dedicação, assiduidade, enfim, atributos ínsitos a qualquer empregado. Não se quer assistencialismo, e sim oportunidades.
Brasil. Ministério do Trabalho e Emprego. Secretaria de Inspeção do Trabalho. A inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. 2ª Ed. Brasília, 2007. Internet: www.dominiopublico,gov.br (com adaptações).
23. Dada a relação de concessão estabelecida entre as duas primeiras orações do texto, a palavra “Embora” (l.1) poderia, sem prejuízo do sentido ou da correção gramatical do texto, ser substituída por Conquanto.
( ) CERTO
( ) ERRADO
24. Considerando os aspectos linguísticos do texto, assinale a opção correta.
A) Em “direitos individuais do candidato versus o direito coletivo” (L.17), o emprego de itálico em “versus” justifica-se pelo tom irônico do texto.
B) Nas linhas 11 e 12, os verbos “retroagir”, “prejudicar” e “ferir” estão coordenados entre si e subordinados à forma auxiliar “pode”.
C) No texto, a expressão “ainda que” (L.4) tem sentido equivalente ao da expressão desde que.
D) No trecho “o de que não se trata de norma penal” (L.13-14), o emprego da forma plural em normas penais implicaria a flexão da forma verbal: o de que
não se tratam de normas penais.
E) No trecho “o de que não se trata de norma penal” (L.13-14), o emprego da próclise em vez da ênclise — não trata-se — justifica-se pela presença de palavra negativa antecedendo a forma verbal.
Leia o texto para responder a questão.
Um pé de milho
Aconteceu que no meu quintal, em um monte de terra trazido pelo jardineiro, nasceu alguma coisa que podia ser um pé de capim – mas descobri que era um pé de milho. Transplantei-o para o exíguo canteiro na frente da casa. Secaram as pequenas folhas, pensei que fosse morrer. Mas ele reagiu. Quando estava do tamanho de um palmo, veio um amigo e declarou desdenhosamente que na verdade aquilo era capim. Quando estava com dois palmos veio outro amigo e afirmou que era cana.
Sou um ignorante, um pobre homem da cidade. Mas eu tinha razão. Ele cresceu, está com dois metros, lança as suas folhas além do muro – e é um esplêndido pé de milho. Já viu o leitor um pé de milho? Eu nunca tinha visto. Tinha visto centenas de milharais – mas é diferente. Um pé de milho sozinho, em um anteiro, espremido, junto do portão, numa esquina de rua – não é um número numa lavoura, é um ser vivo e independente. Suas raízes roxas se agarra mão chão e suas folhas longas e verdes nunca estão imóveis.
Anteontem aconteceu o que era inevitável, mas que nos encantou como se fosse inesperado: meu pé de milho pendoou. Há muitas flores belas no mundo, e a flor do meu pé de milho não será a mais linda. Mas aquele pendão firme, vertical, beijado pelo vento do mar, veio enriquecer nosso canteirinho vulgar com uma força e uma alegria que fazem bem. É alguma coisa de vivo que se afirma com ímpeto e certeza. Meu pé de milho é um belo gesto da terra. E eu não sou mais um medíocre homem que vive atrás de uma chata máquina de escrever: sou um rico lavrador da Rua Júlio de Castilhos.
(Rubem Braga. 200 crônicas escolhidas, 2001. Adaptado)
25. Na passagem do terceiro parágrafo – ... veio enriquecer nosso canteirinho vulgar... –, o substantivo, empregado no diminutivo, contribui para expressar a ideia de
A) exatidão.
B) desprezo.
C) simplicidade.
D) soberba.
E) abundância.
O coração aos pulos. Aquele cheque na bolsa... Meu Deus, me protee, me guia, me salva!
Ao sair do escritório, com o negócio fechado, dona Irene sentia-se leve, até orgulhosa de haver comprido a missão, na cidade. Nem reparou que um sujeito alto a seguia, quase tocando no seu ombro.
Quando reparou, pois ele encostara demais no seu braço e até o puxara, ficou branca, passou a mão no pulso, estava sem o relógio. Gritou desesperada:
- Ladrão! Pega ladrão! Roubou meu relógio! Pega!
Se havia muita gente no loca, de repente apareceu mais ainda. O bolo se adensou, e era difícil as pessoas se mexerem. O homem que agarrara o braço de dona Irene queria correr, mas aí é que não dava mesmo jeito de escapar. Num lance rápido, ele colocou alguma coisa na mão dela, que não compreendeu em o gesto mas apertou o objeto, e só um instante depois viu que era o relógio. Quando deu fé que este lhe fora restituído – coisa surpreendente, difícil de acreditar e mais ainda de acontecer -, já o cara tinha sumido.
Coração aos pulos, emocionada pelo roubo e pela devolução imprevista, o que dona Irena desejou foi tomar um helicóptero e fugir incontinenti dali. Como não há helicóptero à disposição de senhoras aflitas, ela tomou um táxi para chegar em casa ainda arfante, com o multíplice receio do que pudesse acontecer até arir a porta do apartamento – e mesmo depois, quem sabe lá o que pode irromper de terrível hoje em dia?
O marido, na cama, foi despertado pelo puxão nervoso e pelas palavras ainda mais nervosas de dona Irene.
- Imagina: me roubaram e me devolveram meu relógio!
- Que relógio?
- Este aqui – e ela estendeu o pulso, esquecida de que o usera na bolsa, sem tempo e sem calma para atar novamente a pulseira, depois do fato. Abriu a bolsa e exibiu o relógio recuperado.
- Mas você não levou relógio nenhum, filha. Você esqueceu ele na mesinha de cabeceira. Está ali. Quando eu dei fé, corri à janela para avisar, mas não vi mais você.
Sujeito assustado, aquele ladrão! Mais medroso do que a medrosa dona Irene.
Carlos Drummond de Andrade. As palavras que ninguém diz. (adaptado).
Para responder à questão, considere o trecho do penúltimo parágrafo: – Mas você não levou relógio nenhum, filha. Você esqueceu ele na mesinha de cabeceira.
26. O substantivo mesinha está empregado no diminutivo, com a intenção de mostrar que se trata de um objeto de
A) grande valor estético.
B) utilidade questionável.
C) pequenas proporções.
D) grande apreço.
E) alto valor monetário.
Comer ___________ de nozes, castanhas, amêndoas e outras sementes oleaginosas todos os dias pode ser um dos segredos para a longevidade dos ___________ . Um estudo feito nos Estados Unidos descobriu que pessoas que ___________ esse hábito desfrutam ___________ uma melhor qualidade de vida do que aquelas que nunca consomem esses alimentos. (...) A pesquisa foi publicada nesta quinta-feira na revista The New England Journal of Medicine.
(http://veja.abril.com.br/noticia/saude/comer-nozescontribui-com-a-longevidade
21.11.2013)
27. Assinale a alternativa que completa, correta e respectivamente, as lacunas do texto, segundo a norma-padrão da língua portuguesa.
A) porções... cidadãos ...mantêm... de
B) porções...cidadões...mantêm...por
C) porçãos...cidadãos...mantêm...a
D) porções...cidadãos...mantem...de
E) porçãos...cidadões...mantem...por
____ dois meses, a jornalista britânica Rowenna Davis, 25 anos,, foi furtada. Só que não levaram sua carteira ou seu carro, mas sua identidade virtual. Um hacker invadiu e tomou conta de seu e-mail e – além de bisbilhotar suas mensagens e ter acesso a seus dados bancários – passou a escrever aos mais de 5 mil contatos de Rowenna dizendo que ela teria sido assaltada em Madri e pedindo ajuda em dinheiro.
Quando ela escreveu para seu endereço de e-mail pedindo ao hacker ao menos sua lista de contatos profissionais de volta, Rowenna teve como resposta a cobrança de R$ 1,4 mil. Ela se negou a pagar, a polícia não fez nada. A jornalista só retornou o controle do e-mail porque um amigo conhecia um funcionário do provedor da conta, que desativou o processo de verificação de senha criado pelo invasor.
Galileu, dezembro de 2011 (adaptado).
28. Assinale a alternativa em que, na reescrita do trecho, houve alteração da classe gramatical da palavra em destaque.
A) ... mas sua identidade virtual. = mas sua identificação virtual.
B) ... que desativou o processo de verificação de senha... = ... o qual desativou o processo de verificação de senha...
C) Só que não levaram sua carteira... = Só que não levaram a carteira dela...
D) ... a jornalista britânica Rowenna Davis, 25 anos, foi furtada. = a britânica Rowenna Davis, 25 anos, foi furtada.
E) ... e ter acesso a seus dados bancários... = ... e ter acesso a seus dados do banco...
29. Leia a tira.

No segundo quadrinho, a fala da personagem revela
A) hesitação.
B) indiferença.
C) contradição.
D) raiva.
E) exaltação.
30. (a frase – E tudo isso no horizonte de uma geração. –, o termo em destaque significa
A) proposição.
B) confronto.
C) paisagem.
D) intenção.
E) perspectiva.
31. A flexão de número do termo “preços-sombra” também ocorre com o plural de
A) guarda-costa.
B) reco-reco.
C) guarda-noturno.
D) sem-vergonha.
E) célula-tronco.
32. Leia a charge.

Um dos efeitos de humor da charge reside no fato de as personagens entenderem “ROÇONA” e “ROCINHA” como
A) palavras sinônimas derivadas de “roça”.
B) aumentativo e diminutivo de “roça”, respectivamente.
C) áreas urbanas onde se trabalha pouco.
D) áreas rurais cuidadas pelo Exército.
E) substantivos próprios relativos a logradouro.
Não há hoje no mundo, em qualquer domínio de atividade artística, um artista cuja arte contenha maior universalidade que a de Charles Chaplin. A razão vem de que o tipo de Carlito é uma dessas criações que, salvo idiossincrasias muito raras, interessam e agradam a toda a gente. Como os heróis das lendas populares ou as personagens das velhas farsas de mamulengos.
Carlito é popular no sentido mais alto da palavra. Não saiu completo e definitivo da cabeça de Chaplin: foi uma criação em que o artista procedeu por uma sucessão de tentativas erradas.
Chaplin observava sobre o público o efeito de cada detalhe.
Um dos traços mais característicos da pessoa física de Carlito foi achado casual. Chaplin certa vez lembrou-se de arremedar a marcha desgovernada de um tabético. O público riu: estava fixado o andar habitual de Carlito.
O vestuário da personagem - fraquezinho humorístico, calças lambazonas, botinas escarrapachadas, cartolinha - também se fixou pelo consenso do público.
Certa vez que Carlito trocou por outras as botinas escarrapachadas e a clássica cartolinha, o público não achou graça: estava desapontado. Chaplin eliminou imediatamente a variante. Sentiu com o público que ela destruía a unidade física do tipo. Podia ser jocosa também, mas não era mais Carlito.
Note-se que essa indumentária, que vem dos primeiros filmes do artista, não contém nada de especialmente extravagante. Agrada por não sei quê de elegante que há no seu ridículo de miséria. Pode-se dizer que Carlito possui o dandismo do grotesco.
Não será exagero afirmar que toda a humanidade viva colaborou nas salas de cinema para a realização da personagem de Carlito, como ela aparece nessas estupendas obras-primas de humor que são O garoto, Em busca do ouro e O circo.
Isto por si só atestaria em Chaplin um extraordinário discernimento psicológico. Não obstante, se não houvesse nele profundidade de pensamento, lirismo, ternura, seria levado por esse processo de criação à vulgaridade dos artistas medíocres que condescendem com o fácil gosto do público.
Aqui é que começa a genialidade de Chaplin. Descendo até o público, não só não se vulgarizou, mas ao contrário ganhou maior força de emoção e de poesia. A sua originalidade extremou-se. Ele soube isolar em seus dados pessoais, em sua inteligência e em sua sensibilidade de exceção, os elementos de irredutível humanidade. Como se diz em linguagem matemática, pôs em evidência o fator comum de todas as expressões humanas.
(Adaptado de: Manuel Bandeira. “O heroísmo de Carlito”. Crônicas da província do Brasil. 2. ed. São Paulo, Cosac Naify, 2006, p. 219-20)
33. A substituição do elemento grifado pelo pronome correspondente foi realizada de modo INCORRETO em:
A) pôs em evidência o fator comum = pô-lo em evidência
B) eliminou imediatamente a variante = eliminou-na imediatamente
C) arremedar a marcha desgovernada de um tabético = arremedá-la
D) trocou por outras as botinas escarrapachadas = trocou-as por outras
E) ela destruía a unidade física do tipo = ela a destruía
Para responder a questão, considere o texto abaixo, conferência pronunciada por Joaquim Nabuco, a 20 de junho de 1909, na Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos.
Viajando uma vez da Europa para o Brasil, ouvi o finado Willian Gifford Palgrave, meu companheiro de mesa, escritor inglês muito viajado no Oriente, perguntar ao comandante do navio que vantagem lhe parecia ter advindo da descoberta da América. Por sua vez, não lhe ocorria nenhuma, salvo, apenas, o tabaco. Foi a primeira vez que ouvi exprimir essa dúvida, mas anos depois vim a comprar um velho livro francês, de um Abé Genty, livro intitulado: L’influence de la découverte de L’Amérique sur le boniheur du genre humain, e soube então que a curiosa questão havia sido proposta seriamente para um prédio pela Academia de Lyon, antes da Revolução Francesa, e que estava formulada do seguinte modo: “Tem sido útil ou prejudicial ao gênero humano a descoberta da América?”. O trabalho de Genty não passa, em seu conjunto, de uma declaração oca, onde não há nada a colher além da esperança que o autor exprime na regeneração da humanidade pela nova nação americana. Na independência dos anglo-americanos, vê “o sucesso mais apto a apressar a revolução que reconduzirá a felicidade à face da Terra”. E acrescenta: “É no seio da República recem-nascida que se acham depositados os verdadeiros tesouros destinados a enriquecer o mundo”. O livro merece por isso ser conservado, mas a época em que foi escrito, 1787, não permite ainda que se pudesse avaliar a contribuição do Novo Mundo para o em-estr da humanidade. Era já a aurora do dia da América, mais nada mais senão a autora. George Washington presidia a Convensão Constitucional, porém a influência desse grande acontecimento ainda não fora além do choque causado ao Velho Mundo. Ainda não produzira a Revolução Francesa. Sua importância não podia por enquanto ser imaginada.
Há na vida das nações um período em que ainda não lhes foi revelado o papel que deverão desempenhar. O feito que a influência romana tomaria não pode ser previsto nem nos grandes das República. Uma conversa entre César e Cícero sobre o papel histórico da Gália ou da Bretanha não poderia levar em conta a França ou a Inglaterra. Hoje mesmo, quem poderia dizer algo de essencial sobre o Japão ou a China? Do Japão, pode-se afirmar que, para o mundo exterior, está apenas na autora. Quanto à China, continua velada na sua longa noite, brilhando apenas para si própria. Na história da humanidade, a impressão de qualquer um deles poderá sequer imaginar-se? Mas já se pode estudar a parte da América na civilização. Podemos desconheer suas possibilidades no futuro, como desconhecemos as da eletricidade; mas, já sabemos o que é eletricidade, e também conhecemos a individualidade nacional do vosso país. As nações alcançam em época determinada o pleno desenvolvimento de sua individualidade; e parece que já alcançastes o vosso. Assim podemos falar com mais base que o sacerdote francês nas vésperas da Revolução Francesa.
A parte da América na civilização. In: Essencial Joaquim Nabuco. org. introd. Evaldo Cabral de melo. São Paulo: pengun Classics. Companhia da Letras. 2010, p. 531/532).
34. Há na vida das nações um período em que ainda não lhes foi revelado o papel que deverão desempenhar.
Sobre o pronome destacado acima, afirma-se com correção, considerada a norma padrão escrita:
A) está empregado em próclise, mas poderia adequadamente estar enclítico à forma verbal.
B) pode ser apropriadamente substituído por "à elas", posicionada a expressão após a palavra revelado.
C) constitui um dos complementos exigidos pela forma verbal presente na oração.
D) está empregado com sentido possessivo, como se tem em "Dois equívocos comprometeram-lhe o texto".
E) dado o contexto em que está inserido, se sofrer elipse, não altera o sentido original da frase.
(vide aulas de colocação pronominal)
A cultura brasileira em tempos de utopia
Durante os anos 1950 e 1960 a cultura e as artes brasileiras expressaram as utopias e os projetos políticos que marcaram o debate nacional. Na década de 1950, emergiu a valorização da cultura popular, que tentava conciliar aspectos da tradição com temas e formas de expressão moderna.
No cinema, por exemplo, Nelson Pereira dos Santos, nos seus filmes Rio, 40 graus (1955) e Rio, zona norte (1957) mostrava a fotogenia das classes populares, denunciando a exclusão social. Na literatura, Guimarães Rosa publicou Grande sertão: veredas (1956) e João Cabral de Melo Neto escreveu o poema Morte e vida Severina - ambos assimilando traços da linguagem popular do sertanejo, submetida ao rigor estético da literatura erudita.
Na música popular, a Bossa Nova, lançada em 1959 por Tom Jobim e João Gilberto, entre outros, inspirava-se no jazz, rejeitando a música passional e a interpretação dramática que se dava aos sambas-canções e aos boleros que dominavam as rádios brasileiras. A Bossa Nova apontava para o despojamento das letras das canções, dos arranjos instrumentais e da vocalização, para melhor expressar o “Brasil moderno”.
Já a primeira metade da década de 1960 foi marcada pelo encontro entre a vida cultural e a luta pelas Reformas de Base. Já não se tratava mais de buscar apenas uma expressão moderna, mas de pontuar os dilemas brasileiros e denunciar o subdesenvolvimento do país. Organizava-se, assim, a cultura engajada de esquerda, em torno do Movimento de Cultura Popular do Recife e do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE), num processo que culminaria no Cinema Novo e na canção engajada, base da moderna música popular brasileira, a MPB.
(Adaptado de: NAPOLITANO, Marcos e VILLAÇA, Mariana. História para o ensino médio. São Paulo: Atual, 2013, p. 738).
35. As expressões onde e em cujo preenchem corretamente, na ordem dada, as lacunas da seguinte frase:
A) ...... iriam os artistas da época, senão ao Rio, atrás do sucesso artístico ...... todos queriam alcançar e se realizar.
B) Rodado na cidade do Rio de Janeiro, ...... se viviam algumas tensões políticas, o filme provocou um grande debate, ...... calor muita gente mergulhou.
C) O filme Rio, 40 graus foi exibido no ano de 1955, ...... a atmosfera política propiciaria um período de realizações ...... o maior responsável seria o novo presidente da República.
D) Ao realizar Rio, zona norte, filme ...... Nelson Pereira dos Santos lançou em 1957, o cineasta dava sequência a um filme anterior, ...... valor já fora reconhecido.
E) O Rio era uma cidade ...... muitos buscavam para viver melhor, a capital ...... esplendor todos os cariocas se orgulhavam.