

HORA DE PRATICAR!

01. (DPE/MS – Administrador – FGV) A fala do primeiro personagem mostra o emprego de uma variação popular da língua portuguesa falada, o que é demonstrado
(A) pela utilização de vocábulos raros como “baita”.
(B) pelo emprego do vocativo “cara”.
(C) pela falta de pontuação.
(D) pela omissão de palavras como em “das duas uma”.
(E) pela referência a realidades populares como “mega-sena”.
Comentário: a variação popular a que o enunciado se refere é a coloquial, significa grande, enorme e também é utilizada na linguagem formal. Já a
palavra “cara” é um gíria característica do linguajar popular. Vale ressaltar que a falta de pontuação da escrita não é uma característica da linguagem popular na fala, também não são a omissão de termos e a referência a realidades populares.
GABARITO: B
Guardar água em vasilhame de material de limpeza
Não adianta lavar mil vezes. Nunca reutilize galões de material de limpeza ou de qualquer outro produto que tenha substância química para guardar água para consumo. A água pode ser contaminada e causar problemas à saúde.
02. (DPE/MS – Administrador – FGV A frase “Não adianta lavar mil vezes” mostra
(A) a tendência ao exagero como efeito expressivo.
(B) o aborrecimento com ações erradas, mas repetidas.
(C) o destaque do motivo do erro citado.
(D) a utilização de gíria para melhor efeito da mensagem.
(E) a ênfase numa ação útil, mas ineficiente.
Comentário: ninguém vai lavar mil vezes literalmente algo antes de usar, não é? Essa expressão, “mil vezes”, é uma forma exagerada usada para dar expressividade e ênfase ao texto. Em linguagem figurada (conotativa), tal recurso é chamado de hipérbole.
GABARITO: A
Deixar recipientes com água no chão
Nunca deixe as garrafas e galões usados para armazenar água no chão, local por onde passa insetos e naturalmente é mais sujo do que outras partes da casa. Prefira deixar os recipientes em locais mais altos, como bancadas ou em cima da mesa, do que em locais próximos ao chão, para evitar possível contaminação da água.
03. (DPE/MS – Administrador – FGV) Nesse segmento há alguns problemas no emprego culto da língua.
Na frase “Deixar recipientes com água no chão” há um problema de
(A) mau emprego de forma verbal.
(B) falta de concordância adequada.
(C) existência possível de ambiguidade.
(D) seleção de vocábulo inadequado.
(E) ausência de pontuação correta.
Comentário: o trecho “Deixar recipientes com água no chão” apresenta possível ambiguidade, ou seja, possibilidade de dupla interpretação. Podemos entender que a água está no chão ou está nos recipientes que estão no chão.
Tal problema fere o princípio da coesão e coerência, que rege a linguagem culta.
GABARITO: C
Observe a charge a seguir:

04. (TJ/SC - Assistente Social – FGV) Na fala da ovelha (charge 3) há alguns problemas de correção; o fato linguístico que se opõe à norma culta da língua, nesse caso, é a:
a) mistura de tratamentos;
b) conjugação errada de verbos;
c) falha na concordância;
d) utilização de grafia errada;
e) ambiguidade de construções.
Comentário: a fala da ovelha traz incorreções quanto à mistura de tratamentos. A ovelha trata o lobo por “você”, sendo assim, os demais pronomes deveriam ser de 3ª pessoa, não de 2ª. Assim, o uso do “teu” nas três ocorrências em que aparece na fala deve ser substituído por “lhe”. Tal desvio é bastante comum na linguagem coloquial, mas mal visto pela norma padrão.
GABARITO: A
TEXTO 2 - Estamos no trânsito de São Paulo, ano 2030. E não é preciso apertar os cintos: nosso carro agora trafega sozinho pelas ruas, salvo de acidentes, graças a um sistema que o mantém em sincronia com os demais veículos lá fora. O volante, item de uso opcional, inclina-se de um lado para outro como se fosse manuseado por um fantasma. Mas ninguém liga pra ele - até porque o carro do futuro está cheio de novidades bem mais legais. Em vez dos tradicionais quatro assentos, o que temos agora é uma verdadeira sala de estar, com poltronas reclináveis, mesa no centro e telas de LED. As velhas carrocerias de aço foram substituídas por redomas translúcidas, com visibilidade total para o ambiente externo. Se você preferir, é possível torná-la opaca e transformar o carro em um ambiente privado, quase como um quarto ambulante. Como o sistema de navegação é autônomo, basta informar ao computador aonde você quer ir e ele faz o resto. Resta passar o tempo da forma que lhe der na telha: lendo, trabalhando, assistindo ao seu seriado preferido ou até dormindo. A viagem é agradável e silenciosa.
(Superinteressante, novembro de 2014)
05. (TJ-RJ – Analista Judiciário – FGV) O segmento do texto 2 que mostra variação culta de linguagem, sem traços de informalidade ou oralidade é:
a) “mantém em sincronia com os demais veículos lá fora”;
b) “o que temos agora é uma verdadeira sala de estar”;
c) “Mas ninguém liga pra ele”;
d) “está cheio de novidades bem mais legais”;
e) “assistindo ao seu seriado preferido”.
Comentário: vamos procurar a alternativa que não apresenta marcas de formalidade nem de oralidade (expressões da linguagem oral).
a) “mantém em sincronia com os demais veículos lá fora” - ERRADA. "lá fora" (oralidade).
b) “o que temos agora é uma verdadeira sala de estar” - ERRADA. "sala de estar" (metáfora/informalidade/linguagem conotativa/hipérbole = exagero).
c) “Mas ninguém liga pra ele” – ERRADA. "Pra" (informalidade/oralidade).
d) “está cheio de novidades bem mais legais” – ERRADA. "legais" (informalidade).
e) “assistindo ao seu seriado preferido”. CORRETA. Uso perfeito da regência do verbo “assistir” no sentido de “ver”, assistir a alguma coisa.
GABARITO: E
06. (SEDUC/AM – Professor - FGV) Assinale a opção que indica a característica que marca a língua escrita e não a língua falada.
a) O receptor está ausente, o que impede o progressivo refinamento do enunciado diante de dificuldades.
b) O referente também envolve a situação, provocando ausência de alusões claras a esse referente.
c) As conexões entre as frases é menos explícita, com presença de conectores como então, aí etc.
d) As repetições são frequentes, assim como as omissões, esquecimentos, desvios etc.
e) Vocabulário mais reduzido.
Comentário: a questão quer que o candidato encontre a alternativa que tenha característica que marque APENAS uso da língua escrita, não da fala. Apenas na língua escrita o receptor está ausente. Escrevemos e ele lê depois. Diante de eventuais dificuldades do receptor, não há como o escritor detalhar ou explicar ("progressivo refinamento do enunciado") o que já está escrito. A linguagem escrita é estática, não possui o dinamismo da linguagem falada.
GABARITO: A
Norma jurídica x realidade política
No avanço do processo de democratização do Estado brasileiro, com o consequente aumento da transparência dos atos públicos, a imprensa vem derramando nos ouvidos da sociedade uma verdadeira enxurrada de denúncias (fundadas ou não) de conduta ilícita ou reprovável por parte de agentes públicos. Isso tem resultado no profundo descrédito da classe política, que regularmente se mantém flagrante, até que uma notícia de grande repercussão desvie as atenções do povo das acusações e ações contra Senadores, Deputados, Ministros, lobistas de todo tipo. (Mas esse fenômeno ocorre só por pouco tempo: passada a perplexidade com a notícia calamitosa, volta-se logo ao lugar-comum da corrupção, do favoritismo, do enriquecimento ilícito por desvio de recursos públicos.) Tornou-se comum ouvir em entrevistas com populares expressões de descrença na classe política, ao lado de reclamações por “uma lei que proíba isso”.
Sabe-se que isso não é solução. [...]
Os recursos de integração hermenêutica, disponíveis ao aplicador contemporâneo, são suficientes para exigir, dos agentes públicos, a conduta politicamente virtuosa e constitucionalmente positivada que se espera deles.
Além disso, verifica-se no Brasil um conjunto de fatores comuns a países de democratização tardia, que saíram de regimes autocráticos. Inclui-se entre esses fatores a falta de maturidade democrática de boa parcela da população, que simplesmente outorga ao agente público seu voto, sem exigir dele prestação de contas de seu mandato, ou mesmo qualquer ação política efetiva. Os motivos para tal inércia têm sede na própria história e tradição brasileira, como se houvesse uma aceitação na não participação ativa nas decisões de governo, no referendo tácito a oligarquias locais, numa forma de clientelismo patológico, de troca de votos por cestas de alimentos. Tais fenômenos guardam mais relação com o desconhecimento da lei e dos meios de controle político, à disposição de qualquer cidadão, do que com uma tradição consciente de passividade.
(Maluf, Emir Couto Manjud. O desafio da justiça eleitoral face à crise de moralidade
política. Revista de monografias: concurso de
monografias do TRE/MG. nº 1 (2010). Belo Horizonte: TRE/MG, 2010.)
07. (TRE/MG – Analista Judiciário – Consulplan) Considerando-se o contexto, a expressão destacada no segmento “... a imprensa vem derramando nos ouvidos da sociedade uma verdadeira enxurrada de denúncias (fundadas ou não)...” tem o sentido corretamente expresso em
a) série de conflitos.
b) acusações indevidas.
c) revelações indesejadas.
d) abundância de acusações.
e) sequência de inconveniências.
Comentário: Na expressão “enxurrada de denúncias”, o substantivo “enxurrada” foi usado em sentido conotativo, ou seja, em sentido figurado, significando que foram muitas denúncias, em excesso, em abundância. Vale ressaltar que a figura de linguagem usada neste caso foi a hipérbole, que consiste no exagero proposital com intenção de enfatizar uma ideia.
GABARITO: D
Brasileiro, Homem do Amanhã
(Paulo Mendes Campos)
Há em nosso povo duas constantes que nos induzem a sustentar que o Brasil é o único país brasileiro de todo o mundo. Brasileiro até demais. Colunas da brasilidade, as duas colunas são: a capacidade de dar um jeito; a capacidade de adiar.
A primeira é ainda escassamente conhecida, e nada compreendida, no Exterior; a segunda, no entanto, já anda bastante divulgada lá fora, sem que, direta ou sistematicamente, o corpo diplomático contribua para isso.
Aquilo que Oscar Wilde e Mark Twain diziam apenas por humorismo (nunca se fazer amanhã aquilo que se pode fazer depois de amanhã), não é no Brasil uma deliberada norma de conduta, uma diretriz fundamental. Não, é mais, é bem mais forte do que qualquer princípio da vontade: é um instinto inelutável, uma força espontânea da estranha e surpreendente raça brasileira.
Para o brasileiro, os atos fundamentais da existência são: nascimento, reprodução, procrastinação e morte (esta última, se possível, também adiada).
Adiamos em virtude dum verdadeiro e inevitável estímulo inibitório, do mesmo modo que protegemos os olhos com a mão ao surgir na nossa frente um foco luminoso intenso. A coisa deu em reflexo condicionado: proposto qualquer problema a um brasileiro, ele reage de pronto com as palavras: logo à tarde, só à noite; amanhã; segunda-feira; depois do Carnaval; no ano que vem.
Adiamos tudo: o bem e o mal, o bom e o mau, que não se confundem, mas tantas vezes se desemparelham. Adiamos o trabalho, o encontro, o almoço, o telefonema, o dentista, o dentista nos adia, a conversa séria, o pagamento do imposto de renda, as férias, a reforma agrária, o seguro de vida, o exame médico, a visita de pêsames, o conserto do automóvel, o concerto de Beethoven, o túnel para Niterói, a festa de aniversário da criança, as relações com a China, tudo. Até o amor. Só a morte e a promissória são mais ou menos pontuais entre nós. Mesmo assim, há remédio para a promissória: o adiamento bi ou trimestral da reforma, uma instituição sacrossanta no Brasil.
Quanto à morte não devem ser esquecidos dois poemas típicos do Romantismo: na Canção do Exílio, Gonçalves Dias roga a Deus não permitir que morra sem que volte para lá, isto é, para cá. Já Álvares de Azevedo tem aquele famoso poema cujo refrão é sintomaticamente brasileiro: “Se eu morresse amanhã!”. Como se vê, nem os românticos aceitavam morrer hoje, postulando a Deus prazos mais confortáveis.
Sim, adiamos por força dum incoercível destino nacional, do mesmo modo que, por obra do fado, o francês poupa dinheiro, o inglês confia no Times, o português adora bacalhau, o alemão trabalha com um furor disciplinado, o espanhol se excita com a morte, o japonês esconde o pensamento, o americano escolhe sempre a gravata mais colorida.
O brasileiro adia, logo existe.
A divulgação dessa nossa capacidade autóctone para a incessante delonga transpõe as fronteiras e o Atlântico. A verdade é que já está nos manuais. Ainda há pouco, lendo um livro francês sobre o Brasil, incluído numa coleção quase didática de viagens, encontrei no fim do volume algumas informações essenciais sobre nós e sobre a nossa terra. Entre poucos endereços de embaixadas e consulados, estatísticas, indicações culinárias, o autor intercalou o seguinte tópico:
Palavras
Hier: ontem
Aujourd’hui: hoje
Demain: amanhã
A única palavra importante é “amanhã”.
Ora, este francês astuto agarrou-nos pela perna. O resto eu adio para a semana que vem.
08. (FUNARTE – Contador – FGV) A linguagem coloquial aparece seguidas vezes no texto. O segmento que a exemplifica é:
a) “A divulgação dessa nossa capacidade autóctone para a incessante delonga transpõe as fronteiras e o Atlântico”;
b) “Ainda há pouco, lendo um livro francês sobre o Brasil, incluído numa coleção quase didática de viagens, encontrei no fim do volume algumas informações essenciais sobre nós e sobre a nossa terra”;
c) “Ora, este francês astuto agarrou-nos pela perna. O resto eu adio para a semana que vem”;
d) “A primeira é ainda escassamente conhecida, e nada compreendida, no Exterior; a segunda, no entanto, já anda bastante divulgada lá fora, sem que, direta ou sistematicamente, o corpo diplomático contribua para isso”;
e) “Quanto à morte não devem ser esquecidos dois poemas típicos do Romantismo: na Canção do Exílio, Gonçalves Dias roga a Deus não permitir que morra sem que volte para lá, isto é, para cá”.
Comentário: o “ora” e a expressão “agarrou-nos pela perna”, da alternativa C, exemplificam a linguagem coloquial.
GABARITO: C
Nossa Missão
Você e eu estamos na Terra para nos reproduzirmos. Nossa missão é transmitir os nossos genes, multiplicar a nossa espécie e dar o fora. Tudo o mais que fazemos, tudo a mais que nos acontece, ou é decorrência ou é passatempo. O que vem antes e depois dos nossos anos férteis é só o prólogo e o epílogo. Se a natureza quisesse otimizar seus métodos já nasceríamos púberes e morreríamos assim que nossos filhos, que também nasceriam púberes, pudessem criar seus filhos (púberes) sem a ajuda dos avós. Daria, no total, aí uns 35, 40 anos de vida, e adeus. O que resolveria a questão demográfica do planeta e, claro, os problemas da Previdência. Mas a Natureza nos dá o resto da vida - a infância e a velhice e todos os prazeres extrarreprodutivos do mundo, inclusive os sexuais - como brinde. Como um chaveiro, um agradecimento pela nossa colaboração.
A laranjeira não existe para dar laranja, existe para produzir e espalhar sua própria semente. A fruta não é o objetivo da planta frutífera, é o que ela usa para carregar suas sementes, é o seu estratagema. Agradecer à laranjeira pela laranja é não entendê-la. Ela não sabe do que nós estamos falando. Suco? Doçura? Vitamina C? Eu?! Você e eu ficamos aí especulando sobre o que a vida quer de nós, e só o que a vida quer é continuar. Seja em nós e na nossa prole, seja na minhoca e na sua. Nossa missão, nossa explicação, é a mesma do rinoceronte e da anêmona. Estamos aqui para fazer outros iguais a nós. Isto que chamamos, carinhosamente, de "eu", com suas peculiaridades e sua biografia única, não é mais do que uma laranja personalizada. Um estratagema da Natureza, a polpa com que a Natureza protege a nossa semente e assegura a continuação da vida. Enfim, um grande mal-entendido.
E os que passam pelo mundo sem se reproduzir? São caronas. Mas ganham o brinde da vida assim mesmo. A Natureza não discrimina.
(VERÍSSIMO, Luis Fernando. O Globo, 22/09/2013)
09. (CONDER – Técnico de Administração – FGV) O segmento do primeiro parágrafo do texto sem qualquer traço de coloquialismo ou oralidade é
a) "Nossa missão é transmitir os nossos genes, multiplicar a nossa espécie e dar o fora".
b) "Tudo o mais que fazemos, tudo a mais que nos acontece, ou é decorrência ou é passatempo".
c) "Daria, no total, aí uns 35, 40 anos de vida, e adeus".
d) "O que resolveria a questão demográfica do planeta e, claro, os problemas da Previdência".
e) "Como um chaveiro, um agradecimento pela nossa colaboração".
Comentário: a alternativa B é a única que apresenta uma linguagem 100% culta, sem gírias e afins. Vou marcar em vermelho a(s) marca(s) de coloquialismo ou oralidade de cada uma das outras alternativas:
a) "Nossa missão é transmitir os nossos genes, multiplicar a nossa espécie e dar o fora".
c) "Daria, no total, aí uns 35, 40 anos de vida, e adeus".
d) "O que resolveria a questão demográfica do planeta e, claro, os problemas da Previdência".
e) "Como um chaveiro, um agradecimento pela nossa colaboração".
GABARITO: B
Tecnologia
Para começar, ele nos olha na cara. Não é como a máquina de escrever, que a gente olha de cima, com superioridade. Com ele é olho no olho ou tela no olho. Ele nos desafia. Parece estar dizendo: vamos lá, seu desprezível pré-eletrônico, mostre o que você sabe fazer. A máquina de escrever faz tudo que você manda, mesmo que seja a tapa. Com o computador é diferente. Você faz tudo que ele manda. Ou precisa fazer tudo ao modo dele, senão ele não aceita. Simplesmente ignora você. Mas se apenas ignorasse ainda seria suportável. Ele responde. Repreende. Corrige. Uma tela vazia, muda, nenhuma reação aos nossos comandos digitais, tudo bem. Quer dizer, você se sente como aquele cara que cantou a secretária eletrônica. É um vexame privado. Mas quando você o manda fazer alguma coisa, mas manda errado, ele diz "Errado". Não diz "Burro", mas está implícito. É pior, muito pior. Às vezes, quando a gente erra, ele faz "bip". Assim, para todo mundo ouvir. Comecei a usar o computador na redação do jornal e volta e meia errava. E lá vinha ele: "Bip!" "Olha aqui, pessoal: ele errou." "O burro errou!"
Outra coisa: ele é mais inteligente que você. Sabe muito mais coisa e não tem nenhum pudor em dizer que sabe. Esse negócio de que qualquer máquina só é tão inteligente quanto quem a usa não vale com ele. Está subentendido, nas suas relações com o computador, que você jamais aproveitará metade das coisas que ele tem para oferecer. Que ele só desenvolverá todo o seu potencial quando outro igual a ele o estiver programando. A máquina de escrever podia ter recursos que você nunca usaria, mas não tinha a mesma empáfia, o mesmo ar de quem só aguentava os humanos por falta de coisa melhor, no momento. E a máquina, mesmo nos seus instantes de maior impaciência conosco, jamais faria "bip" em público.
Dito isto, é preciso dizer também que quem provou pela primeira vez suas letrinhas dificilmente voltará à máquina de escrever sem a sensação de que está desembarcando de uma Mercedes e voltando à carroça. Está certo, jamais teremos com ele a mesma confortável cumplicidade que tínhamos com a velha máquina. É outro tipo de relacionamento, mais formal e exigente. Mas é fascinante. Agora compreendo o entusiasmo de gente como Millôr Fernandes e Fernando Sabino, que dividem a sua vida profissional em antes dele e depois dele. Sinto falta do papel e da fiel Bic, sempre pronta a inserir entre uma linha e outra a palavra que faltou na hora, e que nele foi substituída por um botão, que, além de mais rápido, jamais nos sujará os dedos, mas acho que estou sucumbindo. Sei que nunca seremos íntimos, mesmo porque ele não ia querer se rebaixar a ser meu amigo, mas retiro tudo o que pensei sobre ele. Claro que você pode concluir que eu só estou querendo agradá-lo,
precavidamente, mas juro que é sincero.
Quando saí da redação do jornal depois de usar o computador pela primeira vez, cheguei em casa e bati na minha máquina. Sabendo que ela aguentaria sem reclamar, como sempre, a pobrezinha.
(VERÍSSIMO, Luis Fernando. O Globo)
10. (CONDER – Técnico de Administração – FGV) A norma culta é respeitada nas frases a seguir, à exceção de uma. Assinale-a.
a) "Quando saí da redação do jornal depois de usar o computador pela primeira vez, cheguei em casa e bati na minha máquina".
b) "Sabendo que ela aguentaria sem reclamar, como sempre, a pobrezinha".
c) "Outra coisa: ele é mais inteligente que você".
d) "Sabe muito mais coisa e não tem nenhum pudor em dizer que sabe".
e) "Esse negócio de que qualquer máquina só é tão inteligente quanto quem a usa não vale com ele".
Comentário: a alternativa correta é aquela em que há um desvio da norma culta. Vejamos a alternativa A:
a) "Quando saí da redação do jornal depois de usar o computador pela primeira vez, cheguei em casa e bati na minha máquina".
Dois problemas:
1) deveria ter uma vírgula entre “jornal” e “depois”, isolando a oração intercalada “depois de usar o computador pela primeira vez”.
2) verbos que indicam movimentação exigem a preposição a. Chegar a algum lugar.
Sendo assim, a alternativa A é a que fere princípios da norma padrão.
GABARITO: A
Questões Propostas
1) A alternativa em que o termo sublinhado está empregado em sentido lógico ou denotativo é:
a) “Este ano, a tônica foram as vaias que os camaradas deram às autoridades federais, estaduais e municipais”;
b) “Com os suculentos escândalos (mensalão, Petrobrás e outros menos votados), as manifestações contra os 12 anos de PT,...”;
c) “... que começaram no ano passado, só não tiveram maior destaque porque a mídia deu preferência mais que merecida aos 20 anos da morte do
nosso maior ídolo esportivo”;
d) “Depois de Ayrton Senna, o prestígio de nossas cores está em baixa...”;
e) “Sim, teremos uma Copa do Mundo para exorcizar o gol de Alcides Gighia, na Copa de 1950...”.
FRANCISCO, OS GAYS E A DOUTRINA
“Se alguém que é gay procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-lo?” A declaração do Papa Francisco, pronunciada durante uma entrevista à imprensa no final de sua visita ao Brasil, ecoou como um trovão mundo afora. Nela, existem mais forma que substância – mas a forma conta.
A homossexualidade é um tabu no Vaticano, Bento XVI, o antecessor de Francisco, escreveu apenas oito anos atrás que a homossexualidade é uma “desordem objetiva” e “uma forte inclinação dirigida para um pecado mortal intrínseco”. Francisco não contestou Bento XVI – e talvez concorde com ele. Contudo, usou o termo coloquial “gay”, algo antes impensável, e colocou o acento em outro lugar: “Quem sou eu para julgá-lo?”
Francisco deslocou o problema. Sob a lógica de sua declaração revolucionária, o problema é de substância (ser gay), mas de circunstância (viver à luz de Deus). Ele não foi além disso. Entretanto, nas dioceses distantes, a frase provocará debates, e muitos a interpretarão como uma licença implícita para ordenar padres que são gays, mas celibatários. “Não fale, não pergunte”: essa foi a orientação de Bill Clinton que começou a abrir as portas das forças armadas americanas aos gays. Francisco disse quase o mesmo.
“Quem sou eu para julgá-lo?” – Isso, dito pelo Papa, não é pouca coisa. O impacto da declaração não está confinado às fronteiras da Igreja. Em dezenas de países, especialmente nos da África, existem leis contra gays. A Rússia de Vladimir Putin acaba de criar uma lei desse tipo. Estados e governos querem a prerrogativa de “julgar” – e de punir! – a orientação sexual das pessoas. Quando a Igreja ensaia rever sua anacrônica posição sobre os homossexuais, algo de relevante está acontecendo.
Na África do Sul, o arcebispo anglicano Desmond Tutu, uma das mais destacadas figuras da luta contra o apartheid lidera uma campanha internacional de denúncia das leis antigays. Ele declarou que repudiaria “um Deus homofóbico”. Francisco ficou bem longe disso, mas suas palavras anunciam o fim de um tempo de escuridão. A pergunta que emerge delas é bem simples: se o Papa não tem o direito de “julgar” os gays, quem são as autoridades políticas para fazê-lo?”
Axé Silva, O mundo, setembro 2013.
2) Na grafia do vocábulo inglês apartheid, o autor emprega um tipo de letra (itálic o) para mostrar que se trata de um estrangeirismo; o mesmo não acontece com o vocábulo gay, provavelmente porque
a) se trata de um vocábulo de linguagem coloquial.
b) se refere a uma realidade moderna.
c) designa um representante da classe dos excluídos.
d) já teve seu emprego bastante difundido.
e) é grafado dentro do sistema ortográfico de língua portuguesa.
Política lucrativa
José Casado, O Globo, 26/08/2014
Um dos melhores negócios do mercado brasileiro é ser dono de partido político. Convive-se com 32 deles, dos quais duas dezenas têm bancadas no Congresso. Na essência, diz o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, se transformaram num “agregado de pessoas que querem um pedacinho do orçamento”. Partido político se tornou ativo financeiro de alto retorno, sem risco e com recursos públicos garantidos por lei, elaborada e votada pelos próprios interessados.
3) Por tratar do partido político como negócio, o texto 2 se apropria de um grupo de vocábulos do jargão econômico; são prova disso:
a)agregado / orçamento;
b)ativo / retorno;
c)risco / lei;
d)mercado / partido;
e)bancadas / Congresso
Atenção: As duas próximas questões referem-se ao texto seguinte.
A lua da língua
Existe uma língua para ser usada de dia, debaixo da luz forte do sentido. Língua suada, ensopada de precisão. Que nós fabricamos especialmente para levar ao escritório, e usar na feira ou ao telefone, e jogar fora no bar, sabendo o estoque longe de se acabar. Língua clara e chã, ocupada com as obrigações do expediente, onde trabalha sob a pressão exata e dicionária, cumprimentando pessoas, conferindo o troco, desfazendo enganos, sendo atenciosamente sem mais para o momento. É a língua que Cristina usou para explicar quem quebrou o cabo da escova, ou a língua das aeromoças em seus avisos mecanicamente fundamentais.
Mas no entardecer da linguagem, por volta das quatro e meia em nossa alma, começa a surgir um veio leve de angústia. As coisas puxam uma longa sombra na memória, e a própria palavra tarde fica mais triste e morna, contrastando com o azul fresco e branco da palavra manhã. À tarde, a luz da língua migalha. E, por ser já meio escuro, o mundo perde a nitidez. Calar, a tarde não se cala, mas diz menos do que veio a dizer. É a que frequenta os cartões de namoro, as confissões, as brigas e os gritos, ou a atenção desajeitada das palavras num velório, ou nos sussurros namorados ao pé dos muros dos subúrbios.
E tem a língua que em si mesma anoitece, quando o escuro espatifa o sentido. O sol, esfacelado, vira pó. E a linguagem se perde dos trilhos de por onde ir. Tateia, titubeia, tropeça, esbarra em regras, arrasta a mobília das normas. À noite, sonha a nossa língua. No céu da boca as palavras guardam um resíduo de pensamento, e têm a densidade vazia das ideias vagas, condensando-se como nuvens de um céu sem luz. No calor tempestuoso dessas noites de Manuel Bandeira, é possível a bailarina ser feita de borracha e pássaro. Enquanto o poeta Murilo Mendes solta os pianos na planície deserta, tudo é dito distante dos ruídos do dia. Tudo é possível nessa escuridão criativa, existe o verso, existe a canção.
Mais tarde, finda a noite, quando abrimos a boca, a língua amanhece, e de novo a levamos pelos corredores e pelas repartições, pelas galerias e escritórios, valendo-nos dela para o recado simples, a ordem necessária, o atendimento útil. Enquanto não chega a tarde, enquanto não anoitece.
Laurentino, André. Lições de gramática para quem gosta de literatura (adaptado).
4) O autor refere-se no texto a três línguas, cuja variação se deve, sobretudo,
a) à classe social do falante, já que esta é marcada pela maior ou menor facilidade de acesso do indivíduo aos bens culturais.
b) à disposição de espírito e ao humor de cada um de nós, que variam de modo aleatório ao longo das diferentes etapas de nossa vida.
c) aos mecanismos linguísticos próprios da linguagem verbal, que nada têm a ver com as intenções ou necessidades circunstanciais do usuário.
d) à diversidade das situações de linguagem, que o autor vê marcadas na sucessão dos diferentes períodos do dia.
e) ao maior ou menor índice de formalidade com que as pessoas as empregam, cumprindo ou descumprindo as normas gramaticais.
5) Atente para as seguintes afirmações:
I. Referindo-se à Língua suada, ensopada de precisão, no primeiro parágrafo, o autor está antecipando as características que reconhecerá nas linguagens poéticas de Manuel Bandeira e Murilo Mendes.
II. Na linguagem vinculada ao entardecer, por volta das quatro e meia, no segundo parágrafo, o autor identifica o aprimoramento da comunicação entre as pessoas, que passa a ser mais precisa e imediata.
III. A língua que em si mesma anoitece, qualificada no terceiro parágrafo, ganha atributos estéticos, fazendo- se mais criativa e surpreendente que nos outros estágios de sua utilização.
Em relação ao texto, está correto o que se afirma APENAS em
a) II e III.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) I.
6) Leia a charge.

Um dos efeitos de humor da charge reside no fato de as personagens entenderem “ROÇONA” e “ROCINHA” como
a) palavras sinônimas derivadas de “roça”.
b) aumentativo e diminutivo de “roça”, respectivamente.
c) áreas urbanas onde se trabalha pouco.
d) áreas rurais cuidadas pelo Exército.
e) substantivos próprios relativos a logradouro.
Uma ideia simples
Elio Gaspari, Folha de São Paulo, 27/8/2014
Todos os candidatos prometem crescimento e austeridade. Entre os chavões mais batidos vem sempre a reforma tributária, tema complexo, chato mesmo, acaba sempre em parolagem. Promete-se a simplificação das leis que regulam os tributos, e a cada ano eles ficam mais complicados. Uma coletânea da legislação brasileira pesa seis toneladas. Aqui vai uma contribuição, que foi trazida pelo Instituto Endeavor. Relaciona-se com o regime de cobrança de impostos de pequenas empresas, aquelas que faturam até R$ 3,6 milhões por ano (R$ 300 mil por mês). É o Simples – pode-se estimar que ele facilita a vida de algo como 3 milhões de empresas ativas.
7) Sobre a variedade de linguagem mostrada no texto acima, afirma-se corretamente que ela pertence à linguagem:
a) formal, com exemplos de coloquialismo;
b) informal, com inserções de gíria;
c) regional, com traços de formalidade;
d) popular, com falhas gramaticais;
e) culta, com marcas de erudição.
8) Para transmitir mensagens, é fundamental que haja uma fonte e um destino, distintos no tempo e no espaço. A fonte é a geradora da mensagem e o destino é o fim para o qual a mensagem se encaminha. Nesse caminho de passagem, o que possibilita à mensagem caminhar é o canal. Na verdade, o que transita pelo canal são sinais físicos, concretos, codificados. (Samira Chalhub)
No texto acima,
a) resumem-se os papéis desempenhados pelos principais componentes de um sistema de comunicação.
b) demonstra-se como se estabelecem as diferentes funções da linguagem num discurso em prosa.
c) afirma-se que a verdadeira comunicação ocorre quando o falante tem plena consciência dos procedimentos da fala.
d) fica claro que o elemento essencial para qualquer ato de comunicação está no pleno domínio das formas cultas.
e) argumenta-se que a efetividade da comunicação está condicionada pelo tipo de canal em que se decodificará a mensagem.
Leia o texto abaixo, para responder à questão.
Texto
A notícia de que foi demolida a igrejinha de Santa Ifigênia me fez voltar ao passado e pensar na história da sua construção, que talvez nem toda a gente conheça hoje.
Quem a fez foi uma antiga escrava, Maria Velha (como era conhecida), em pagamento de promessa. Prometeu construir a capela com o fruto de seu trabalho e de donativos, e assim aconteceu. Ignoro quando começou e quais são os detalhes, mas penso que foi tarefa da maior parte da vida, com migalhas acumuladas num esforço duro de cada dia.
Lembro da construção já na fase final, que caminhava devagar, porque o dinheiro ia pingando aos poucos, destilado pelo esforço da boa velhinha. Ela passava semanalmente pelas casas a fim de apanhar retalhos de pano, que sobravam das costuras e que as senhoras guardavam para lhe dar. Subia da casa onde morava, na rua hoje denominada Belo Horizonte, e vinha vindo, de porta em porta, recebida com estima e carinho. Já estava no fim da vida, creio que na casa dos 80. Era então frágil e curva, sempre arrimada a um bastão polido pelo contato de tantos anos, trazendo com dificuldade nas costas o saco onde punha os retalhos com que fazia colchas, para vendê-las e angariar recursos que iam alimentar a construção. Sei que também fazia doces e quem sabe mais coisas, separando o mínimo para as necessidades e aplicando o mais na realização de seu grande objetivo.
Se não me engano, a consagração foi ali por 1927, talvez no Natal, com festa de congadeiros e moçambiques, pois ela era Rainha Conga. As pessoas gradas compareceram e o padre rezou a primeira missa. Ouvi contar que então Maria Velha teve um momento de extraordinária plenitude, improvisou uma espécie de alocução entrecortada, dizendo que ali estavam os brancos, os ricos, os importantes, mas quem fizera aquela obra de Deus fora ela, pobre, negra e antiga escrava. Depois, recolheu-se à apagada humildade, enquanto os foguetes pipocavam em contraponto festivo com as caixas dos congos e os bumbos dos moçambiqueiros.
A meu ver, Maria Velha deu um alto exemplo de fidelidade às crenças, respeito à própria consciência e tenacidade na realização de um ideal. A integridade com que cumpriu o seu compromisso íntimo deve ser encarada em função da pobreza e desqualificação social que a caracterizavam, pois só assim é possível avaliar a sua justa dimensão. Com efeito, se é louvável e nobre o fato de uma pessoa abastada praticar atos de generosidade e desprendimento, que a privam quando muito do supérfluo, o que dizer de quem se priva do necessário para realizar uma obra que não vai trazer qualquer vantagem material ou projeção de fama, e corresponde apenas ao império da convicção?
A vida consagrada de Maria Velha ilustra bem um dos lados mais belos dos brasileiros de origem africana, que, vilipendiados, privados de liberdade, humilhados pela própria natureza da sua condição, souberam não obstante ensinar aos seus senhores o que valem a dedicação e a retidão moral. Os escravos não apenas construíram o Brasil com o seu trabalho, mas legaram qualidades humanas que um preconceito obtuso em vão procura negar.
CANDIDO, Antonio. “Duas heroínas” (A vanguarda, Cássia/MG, 10/6/1984). Texto com adaptações. In: Textos de Intervenção / Antonio Candido; seleção apresentação e notas de Vinicius Dantas. São Paulo: Duas Cidades; Ed.34, 2002. (Coleção Espírito Crítico).
9) Levando em consideração o terceiro parágrafo do texto e as orientações da prescrição gramatical no que se refere a textos escritos na modalidade padrão da Língua Portuguesa, assinale a alternativa correta.
a) Em “Lembro da construção já na fase final”, há uma construção coloquial do ponto de vista da regência, que pode adequar-se à modalidade padrão escrita com o uso do verbo “lembrar” em sua forma pronominal (Lembro-me da construção).
b) Em “Era então frágil e curva”, o termo destacado assume um valor adverbial, referindo-se à época em que Maria Preta havia, conforme o restante da frase, assumido determinadas características físicas. Assim, uma construção semanticamente equivalente ao trecho seria “Era, desse modo, frágil e curva”.
c) Em “aplicando o mais na realização de seu grande objetivo”, o termo destacado é um advérbio de intensidade, equivalendo em sentido ao destacado nesta frase: Passou a trabalhar mais no novo emprego.
d) Nos trechos: “Ela passava semanalmente pelas casas”, “Subia da casa onde morava” e “trazendo com dificuldade nas costas o saco onde punha os retalhos”, todas as expressões destacadas expressam a mesma circunstância: a de movimento.
e) Nos trechos: “a fim de apanhar retalhos de pano” e “que iam alimentar a construção”, a substituição dos termos destacados pelo pronome oblíquo teria como resultado as seguintes expressões, adequadas à correção gramatical: “a fim de apanhar-lhes” e “que lhe iam alimentar”.